A chuva batia ruidosamente na janela e o som do vento fazia-se ouvir na perfeição. Deitada, sem conseguir descansar naquela tarde, dirigiu-se até a janela e olhou lá para fora. O tempo não convidava a sair, contudo, ela olhou para a secretária e viu o pedaço de papel escrito por ela, naquela passada noite, onde deixará tudo o que lhe ia na alma transparecer naquela folha com palavras tremidas. Olhou novamente lá para fora, e uma vez mais para o papel. Agarrou nele, dobrou, mete-o no bolso, vestiu um casaco e saiu.
Ela sabia onde o encontrar. E lá estava ele. Ficou a vê-lo ao longe, na esperança que ele não a visse, mesmo sabendo que no fundo ela queria que o olhar de ambos se cruzasse. Ela pôs a mão no bolso para retirar o pedaço de papel e foi aí que o viu sorrir. Não para ela. Não para outra. Para si próprio. Ele estava feliz, e isso era tudo o que ela sempre lhe desejara. Nada tinha mudado, nada iria certamente mudar. Retirou o papel, releu-o uma vez mais e, a conter as lágrimas, rasgou-o. Ela olhou para ele uma vez mais, sorriu e afastou-se.
O papel não tinha sido rasgado na perfeição, e a esvoaçar ficaram os pedaços. Pedaços esses cuja frase sobressaia num deles: “Gostava que não te tivesses esquecido de que eu disse que estaria sempre aqui...”